Sento-me no sofá, de maneira mais que merecedora de responso sobre a "boa" educação, ou constatação da falta dela. Abro as, já mais que quebradas, páginas do desassossego de Bernardo, enquanto com o branco dos olhos, oiço a menina da Sic Notícias profetizar a vinda destes senhores para o festival da marca de cerveja. Tive vontade de rir claro, extravasando o jubilo da possibilidade de poder ao menos alimentar a - bem vã, com certeza - esperança residente na possibilidade, meramente física, baseada na equação probabilística, que posso vir a poder, provavelmente, e muito "se calhar", ver estes gajos. Mas não rio. Quem me visse, com o Desassossego do Soares na mão, carimbar-me-ia de "psicótico esquizofrénico tendenciosamente assassino de freiras ou de outros sacros trajes". Não rio. De repente lembro-me: - Arcade Fire!!!! Mas que raio de boa companhia para os intervalos dolorosos do desassossego do Guarda Livros do Patrão Vasques!!! Numa fracção de segundo, visualizo-me a erguer-me num salto atlético do sofá, para depois me lembrar que de atlético tenho tudo, menos o bucho... Achei por melhor dedicar o pensamento a tentar desvendar o mistério de onde parava aquele original de "Funeral", álbum que em 2005 me alimentou a alegre melancolia, como Pessoa o faz agora, deixando para o corpo a preocupação de encontrar maneira, o menos penosa possível, para se levantar... ou ir levantando. O corpo decidiu levantar-se bem como o CD empoeirado decidiu aparecer. Volto ao Desassossego com Bernardo. "Funeral" sai do leitor. Entra "The Suburbs", este último álbum da Arca de Fogo. Apercebo-me que, depois de ter comprado aquilo, numa qualquer ida a terras onde as casas se empilham, ainda não o tinha escutado... Apenas ouvido de fugida... Sim... Com a parte branca do olho... Talvez. Chega "Ready to start" e vem outra vez o Desassossego do senhor da Rua dos Douradores. "Uma criança, que uma vez ouvi, disse, querendo dizer que estava à beira de chorar, não «Tenho vontade de chorar», que é como diria um adulto, isto é, um estúpido, senão isto: «Tenho vontade de lágrimas»" Fecho o livro. Ergo-me como uma mola e vou beber um copo. Whisky, parecia-me bem. Para de alguma forma calar a "vontade de lágrimas" com que Pessoa me deixara... Ou com que a musica me deixou... Ou que um e outra me impingiram. O whisky acabaria por virar Chá verde... A vontade de lágrimas virou post... É a vida. "... atira-nos como uma pedra e nós vamos dizendo no ar: «Aqui me vou mexendo»."
O Abraço